Da redação:
O amor intenso que vira ódio. Uma alegria contagiante que se transforma em profunda tristeza. Um enorme sentimento de culpa e o medo de ser abandonado. O comportamento e as emoções exaltados são característicos de quem vive com Transtorno de Boderline (ou “limítrofe”). Já ouviu falar sobre essa doença?
O conhecimento sobre o Transtorno de Boderline é importante para o trabalho de gestão de pessoas desenvolvido pelo RH. O setor, responsável pelo recrutamento e seleção dos funcionários, tem também como o desafio de cuidar do capital humano dentro das empresas, garantindo o bem-estar e o bom desempenho das atividades.
A síndrome é um problema de personalidade que causa a troca de emoção com muita facilidade e com intensidade muitas vezes desproporcional à realidade, causando complicações para quem a tem e quem trabalha com ela.
Entenda melhor a seguir!
O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?
Traduzido do inglês, borderline significa algo que está na fronteira, no limite ou é incerto. Essa é uma das principais características dessa síndrome, também chamada de transtorno de personalidade limítrofe.
Quem sofre com esse transtorno tem mudanças de humor bruscas, instabilidade emocional e estado de espírito inconstante, resultando em atitudes impulsivas que podem gerar surtos de ódio e, até suicídio, em casos mais graves e que não são devidamente cuidados.
Para o dr. Sérgio Ricardo Hototian, psiquiatra no Hospital Sírio-Libanês e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa), esses curtos são desencadeados por situações de crise nas relações interpessoais, seja no trabalho, com família ou amigos.
“O ambiente muda muito o humor dessas pessoas, que, em geral, reagem mal quando são contrariadas. Quando a crise é acompanhada de forte paranoia, elas podem chegar a cometer violências físicas contra outras pessoas”, comenta o médico.
Uma forte característica dessa síndrome é a mudança brusca de sentimento, que pode ir do amor profundo ao ódio. “É comum elas gritarem e ofenderem amigos e familiares, por exemplo, mas na sequência comportarem-se como se nada tivesse ocorrido”, comenta.
Ou seja, é um transtorno de personalidade que leva o paciente a ter comportamentos que foge do padrão considerado “normal” ou saudável, com intensidade, muitas vezes, além do necessário, fora do real.
O que causa esse transtorno?
A medicina ainda não tem uma resposta exata para essa questão. Entretanto, tendem a acometer indivíduos que cresceram em ambientes conturbados, seja afetiva ou emocionalmente. E as crises se manifestam após conflitos emocionais difíceis.
É uma situação comum?
É estimado que o Transtorno de Personalidade Borderline acometa cerca de 2% da população mundial. Apesar de estudos apontarem que essa proporção pode chegar a 5,9%, se for considerado os casos que ficam sem diagnóstico adequado (que nos ambulatórios de psiquiatria, representa em torno de 20% dos pacientes).
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), de 8 a 10% dos indivíduos com essa síndrome comete suicídio.
No Brasil não existem estatísticas sobre a prevalência do transtorno.
Quais são os fatores de risco?
Apesar de não ter causas claras, mas a análise dos casos diagnosticados indicam alguns fatores de risco:
- Genética: o Transtorno de Borderline pode ocorrer devido a predisposição genética, sendo cinco vezes mais provável de ser desenvolvido se parentes próximos também apresentam o transtorno.
- Fatores ambientais e sociais: experiências emocionais fortes e traumáticas, especialmente quando criança, podem desencadear o transtorno
- Fatores do cérebro: estudos apontam que indivíduos com essa síndrome apresentam mudanças estruturais e funcionais no cérebro, nas áreas que controlam impulsos e regulação emocional. Entretanto, essas alterações não significam que o indivíduo terá, necessariamente, o transtorno.
Como é feito o diagnóstico?
Diagnosticar um indivíduo com Transtorno de Borderline não é uma tarefa fácil. E, por ter características semelhantes a outras síndromes, ele acaba sendo sub-diagnosticado ou mal diagnosticado.
O reconhecimento da doença é realizado através de uma entrevista com o paciente e familiares, análise clínica que ajuda a descartar outras possíveis doenças e exames médicos abrangentes podem ajudar.
Quais as principais características?
- Medo do abandono, que muitas vezes alimenta o isolamento;
- Raiva intermitente;
- Mudanças de humor intenso e altamente variável, que dificultam o convívio social;
- Ansiedade, medo, irritação e insegurança são sentimentos comuns;
- Sentimento recorrente e interior vazio e solidão, que promove a dependência afetiva;
- Hábitos ruins, como vício em álcool, drogas, sexo extra conjugal, etc. ;
- Padrão de relações intensas e instáveis;
- Auto-imagem distorcida e instabilidade em relação a si mesmo;
- Baixa autoestima;
- Comportamento Impulsivo;
- Auto depreciação;
- Lente do passado (pacientes com Transtorno Borderline tendem a encarar as situações atuais com através da lente de seu passado traumático);
- Intenções suicidas.
Qual o tratamento?
O tratamento da Síndrome de Borderline pode ser realizado através do uso de antidepressivos, estabilizadores de humor e calmantes recomendados pelo psiquiatra.
Por afetar diversos papéis sociais, a doença exige que o paciente tenha acompanhamento multidisciplinar com psiquiatra e psicólogo.
O processo de psicoterapia é importante para ajudar o indivíduo a ressignificar as vivências do passado, levando-o a controlar os impulsos e entender melhor sobre os motivos de seus comportamentos, com o objetivo de reduzir o sofrimento e prejuízos nas relações e produtividade.