“Quem tenta suicídio tem uma tristeza profunda, aquela sensação de que nada vai melhorar, de que o seu problema não tem solução. A pessoa não vê nenhuma perspectiva e então neste momento ela pensa que é a hora de tirar sua própria vida. É muito importante que a pessoa procure ajuda, fale sobre o problema, sobre o que a incomoda e obtenha ajuda. O CAPS II trabalha justamente para atender esta demanda, para oferecer tratamento, acompanhamento e evitar este tipo de situação”, destaca o coordenador do programa de Saúde Mental do município, Ari Martinez.
Segundo um levantamento apresentado pela Polícia Civil, no ano passado foi registrado um suicídio a cada 19 dias na região de Paranavaí. Foram mais suicídios do que homicídios na cidade em 2017. O levantamento aponta ainda que nos últimos três anos, 20 pessoas tiraram a própria vida em Paranavaí.
“Este índice de suicídios não é real, é muito maior, pois existem as subnotificações. Existem os casos de suicídio de pessoas de classe mais alta, onde a família não permite que o caso seja divulgado na mídia. Também existem os suicídios ocultos, como alguém que saiu de moto e se colocou na frente de uma caminhão, ou a pessoa que saiu a pé e se jogou na frente de um carro num local de trânsito intenso. Temos que nos perguntar: será que foi acidente? Ou já havia a intenção de morrer? Também há aquelas pessoas que se permitem morrer, que é o ‘di suicídio’, como em casos de pessoas com doenças graves como o câncer, o HIV. O paciente simplesmente desiste do tratamento, não se deixa tratar, para de tomar os remédios e se permite morrer. Esses casos não entram para as estatísticas. E nós precisamos tentar identificar isso para oferecer a ajuda adequada”, explica a médica psiquiatra do CAPS, Amanda Silva.
Para a médica, a grande barreira para o tratamento ainda é o preconceito. “Precisamos quebrar o tabu sobre os transtornos mentais. Quase 100% dos suicídios estão relacionados a transtornos como depressão, transtorno bipolar, alcoolismo, drogas. Existe uma barreira muito grande porque as pessoas não conseguem reconhecer que estão doentes e, com isto, não conseguem fazer com quem está à sua volta reconheça isso também. Todo mundo pode ter um tipo de doença, diabetes, hipertensão, qualquer coisa, mas não pode ter um transtorno mental. A nossa meta é quebrar esse tabu, é falar do assunto abertamente, é dar espaço para que as pessoas possam falar como se sentem, e peçam ajuda antes que tomem uma atitude radical como o suicídio”, frisa.
Procura por tratamento – Segundo dados do Ministério da Saúde, 90% dos casos de suicídio podem ser prevenidos. São situações que podem ser combatidas, desde que haja uma assistência psicológica, psiquiátrica, social. Mais de 70% dos casos de suicídio são de homens. “Existem mais tentativas de suicídio entre as mulheres, mas os meios que elas utilizam não são tão radicais e eficazes como os dos homens. Além disso, as mulheres procuram mais por tratamento antes de tentarem tirar a própria vida. Em quase todos os casos, a pessoa não quer realmente tirar sua própria vida. Ela quer acabar com aquela angústia, com aquele sofrimento”, aponta a psiquiatra.
Mas é importante saber que a depressão, aquela vontade profunda de cometer suicídio, tem tratamento através de terapias, medicamentos, orientações, e que o apoio da família no tratamento faz muita diferença. “No CAPS, o tratamento é multiprofissional e, com o acompanhamento correto, é possível conter essa vontade que a pessoa tem de tirar sua própria vida. É feito também um trabalho com a família, um acompanhamento com aquelas pessoas que estão mais próximas do paciente no dia-a-dia. Às vezes a família tem dificuldade em saber lidar com a situação. A participação da família é muito importante, porque muitas vezes o paciente não fala tudo que está acontecendo com ele. Mas quando tem o apoio da família, a recuperação é mais eficaz, o paciente fica mais estável, ajuda a pessoa a ficar mais segura diante dos desafios com que ela tem que lidar”, enfatiza o coordenador de Saúde Mental do município.
Acompanhamento – Outro fator fundamental é o desenvolvimento de um trabalho de prevenção também nos postos de saúde, nos CRAS, em toda a rede de atendimento em saúde e assistência social do município. “Hoje já acontece um trabalho de matriciamento, que é a integração das equipes dos CAPS com as Unidades Básicas de Saúde. Desde setembro do ano passado, toda quinta-feira uma das equipe dos CAPS vai até uma UBS para fazer este trabalho de acompanhamento e identificação de pacientes. O trabalho é bom, é bem feito, as pessoas têm atendimento no posto de saúde, mas ainda não é possível absorver toda a demanda. Percebemos que ainda é pouco e já estamos pensando em ampliar a possibilidade de atendimento, criar mais alternativas para motivar mais as pessoas para que busquem ajuda”, afirma Ari.
Principais sinais – A médica psiquiatra do CAPS diz que é preciso dar atenção aos sinais que as pessoas dão quando pensam em suicídio. “Muita gente trata o problema como uma besteira, frescura, e isso fecha uma porta de a pessoa tentar conversar com a família, de falar sobre como ela se sente. Quando alguém fala em suicídio, é preciso ficar atento, acreditar no que a pessoa está falando. Porque quando ela chega a falar, é porque essa ideia já não sai da cabeça dela, e tocar no assunto é uma maneira de pedir um socorro, mesmo que indiretamente. Precisamos criar um olhar diferenciado com as pessoas à nossa volta para conseguir identificar as mudanças de comportamento, os sinais de alerta. Às vezes alguém tira sua vida e todos falam: ‘nossa, mas ele não tinha nada’. Tinha sim. Quando investigamos um pouco mais a fundo, começamos a ouvir relatos sobre os sinais de alerta que essa pessoa já vinha dando e ninguém percebeu ou não deu a devida importância. A palavra de ordem é: peça ajuda. Se você não consegue pedir, que alguém peça por você, um amigo, alguém da família. Pode ser que não seja nada sério, mas pode ser que haja um sentimento profundo de morrer que pode ser tratado, acompanhando”, finaliza.
O CAPS II de Paranavaí atende hoje mais de 400 pessoas com diferentes transtornos e é mantido com recursos do Governo Federal. A contrapartida do município é a manutenção de profissionais e pessoal para atendimento dos pacientes. O Centro fica localizado na Rua Guaporé, 2.290. Os telefones para contato são o 3902-1018 e o 3423-2466.
Fonte: Prefeitura de Paranavaí