Após 35 anos de trabalho, a última sexta-feira foi de despedida para o médico legista Luiz Antônio Ricci de Almeida. O diretor do Instituto Médico Legal (IML) de Paranavaí se aposentou.
Ricci chegou a Paranavaí em 1978. Oficialmente começou a ser médico legista em 1982, porém, antes ele já ajudava fazendo laudos sem receber. Tudo era muito precário e na maioria das vezes os trabalhos eram realizados somente com o visual e não havia a abertura dos corpos.
“Lembro-me de uma vez que estava assistindo uma palestra. Sai no meio porque houve uma morte suspeita e tive que fazer o exame. Naquele dia tive que chamar a polícia para poder abrir o corpo e definir com exatidão a causa da morte. Tudo isso porque a família não aceitava que eu fizesse o meu trabalho”, disse o legista.
O médico relembrou que tempos depois da Santa Casa, passou a fazer os exames no Cemitério Municipal. O local tinha o apelido de “barateiro” por causa da grande quantidade de baratas no local.
“Era uma estrutura muito precária. Não tinha água e nem luz. Puxávamos um pendente de energia para iluminar. Quando tinha que lavar os corpos era com balde e não tinha como não molhar os pés. Era uma ginástica e mesmo assim permaneci dois anos usando a estrutura”, relembra o médico.
Ricci comentou que a situação melhorou depois de firmar uma parceria com a antiga Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Paranavaí (Fafipa). O médico, que também era professor de Anatomia, passou a fazer as necropsias em devidamente adequado.
Sobre os casos que marcaram a sua carreira, o médico revela ficar chocado com casos de violência sexual envolvendo crianças. Também marcaram sua trajetória no IML as necropsias de pessoas que chegavam totalmente desfiguradas após sofrerem acidentes.
Ricci afirmou que durante os anos trabalhados no IML houve situações onde conseguiu desmascarar mentiras.
“Nesses 35 anos procurei trabalhar com naturalidade para suportar as situações estressantes. Diariamente convivia com fatos tristes e não podia deixar isso influenciar minha vida. Tiveram situações em que ajudei solucionar mentiras de pessoas que diziam ter sofrido agressões e não era verdade. Em outras situações descobri crimes que eram imperceptíveis.”
Mesmo aposentado do IML, Ricci não irá parar de trabalhar definitivamente. Continuará dando plantões na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Santa Casa e segue suas funções como médico patologista.
Além disso, incluirá em suas “atividades”, mais tempo para dedicar para suas três netas que residem em Paranavaí e em Maringá.